O tópico “vício” em substâncias psicotrópicas é um tema frequente em consultas de saúde mental. De fato, certos medicamentos podem levar à dependência, fenômeno que se origina do reforço positivo gerado por sensações agradáveis - sejam elas de euforia ou de calma - induzidas por determinadas substâncias. No entanto, os antidepressivos, em geral, não produzem tais efeitos e, por isso, não são considerados fármacos com potencial de dependência - inclusive não são tarja preta.
Sob a ótica neurobiológica, a depressão está associada a um desequilíbrio bioquímico cerebral, resultando em uma neurotransmissão deficiente. Os antidepressivos intervêm nesse cenário, reorganizando a neurotransmissão e, consequentemente, melhorando o estado de ânimo. Isso justifica o impacto limitado desses medicamentos em pessoas sem alterações de humor.
É reconhecido também que a depressão pode intensificar o estresse neuronal, acarretando efeitos neurotóxicos e degeneração precoce. Assim, quando prescritos adequadamente, o uso contínuo de antidepressivos é seguro e pode até favorecer a neuroplasticidade, exercendo um efeito protetor para o cérebro.
Importante destacar que a interrupção abrupta do tratamento com antidepressivos pode desestabilizar o novo equilíbrio alcançado, provocando uma síndrome de descontinuação pela parada abrupta, o que não significa dependência química. Portanto, a suspensão do medicamento deve ser progressiva, seguindo protocolos específicos para cada substância e sempre sob supervisão médica.
Mitos e outros medos sobre antidepressivos te impedem de se tratar? Escolha um psiquiatra de confiança que possa te explicar de forma clara e te passar segurança ao longo de seu tratamento.
Texto por dr João Pedro.
CRM-DF: 30902
